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Redação do Enem 2016

Por professora Karina Chamklidjian 

A proposta de redação do Enem 2016 apresentou o tema "Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil". O próprio enunciado já convidava o candidato a pensar na proposta de intervenção, com base no que trouxeram os textos motivadores sobre como se dá, hoje, a intolerância religiosa no país. Interferências em atos religiosos, discriminação ou ataques a uma pessoa por sua religião (ou por ser ateia) são crimes inafiançáveis e imprescritíveis, de acordo com a legislação brasileira. A Declaração Universal dos Direitos Humanos também assegura, em seu artigo 18, que "Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.". No entanto, ainda são comuns ataques, principalmente a praticantes de religiões de matriz africana, a mais atacada, como apontava o gráfico da proposta; em seguida, os evangélicos. Seria possível estabelecer uma ligação entre os ataques sofridos especialmente por essas duas vertentes religiosas e seus praticantes, deflagrando também o preconceito racial e social, o que explica, em parte, essa discriminação.  

Exemplos diversos poderiam ser utilizados pelo candidato, como: o tratamento dado pela mídia aos praticantes dessas religiões, sempre de maneira estereotipada e caricata; a expulsão dos terreiros de umbanda e candomblé dos morros cariocas, promovida por traficantes evangélicos; a garota de 11 anos que foi agredida com pedras, no Rio de Janeiro, quando saía vestida para um culto de candomblé; a destruição de imagens de santos de igrejas católicas no interior de Minas Gerais; o preconceito visível em debates eleitorais de cidades cujos candidatos professavam determinada religião. Os discursos de ódio incitados por algumas autoridades religiosas, a demonização de determinadas crenças e até mesmo a "Bancada Evangélica" - políticos oriundos de igrejas evangélicas articulados para votar e propor pautas de seus interesses, ignorando que o Brasil é um Estado Laico, ou seja, não permite a interferência de correntes religiosas em matérias sociopolíticas e culturais - também fomentam ainda mais esse cenário de discriminação e intolerância.  

Como propostas de intervenção, o candidato poderia apontar um endurecimento da legislação para coibir a intolerância. Seria possível ainda mobilizar as lideranças religiosas para tentar detectar e refrear os discursos de ódio em seu meio. Campanhas veiculadas pela mídia promovendo o respeito à diversidade religiosa seriam bem-vindas. A escola, como agente promotor de educação, conscientização e tolerância também poderia ser mencionada, pois muito do desrespeito parte de cidadãos que desconhecem a realidade de religiões diferentes da sua e, em boa parte dos casos, é esse desconhecimento que leva ao preconceito.